terça-feira, 8 de novembro de 2011

Lukashenko, presidente da Bielorrússia: “Otan/EUA agiram na Líbia como nazistas”


O presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, denunciou a atuação da Otan na Líbia como um “ato de vandalismo do Século XXI”. Ele disse, em entrevista coletiva no domingo, que a ação das tropas da Aliança Ocidental no país africano viola o mandato do Conselho de Segurança da ONU.
O dirigente bielorrusso denunciou ainda a crueldade que envolveu a execução do líder líbio Muamar Kadafi por parte dos assassinos auto-intitulados rebeldes, com o aval da “OTan/EUA. “Foi um ato de agressão. O modo como assassinaram o líder Kadafi foi muito cruel”, enfatizou.
Ele acusou a ONU e a Otan de ajudar os assassinos na Líbia. “Durante a agressão, a liderança do país foi assassinada, junto com outras pessoas,” aponta. “Além disso, ele foi morto por forças especiais da Otan. Eles fizeram pior do que os nazistas em seu tempo”, declarou. “Tal política e ações não irão prevalecer no planeta”, adverte Lukashenko.
Lukashenko afirmou que na Líbia há fortes reservas de recursos naturais, o que aumenta a ganância das potências imperialistas que atacaram o país. “Todo mundo se dirigiu para lá. Estados Unidos, Itália, França e Alemanha têm 150 milhões de dólares retidos da Líbia e se interessam muito em se apoderar dessa riqueza”, denunciou.

Golpe na Líbia foi sustentado pela cobertura da Al Jazeera - 2


LEONARDO SEVERO
E o que moveu a rede de televisão do Catar, que cumpriu um papel chave anteriormente na denúncia da Guerra do Iraque, a abdicar do jornalismo? "Foi a conquista de contratos comerciais", respondeu, o motivo principal que levou o emir do Catar – proprietário da rede - a transformar a Al Jazeera em sucursal dos interesses imperiais. "Queriam solidificar a aliança deles com a Otan. Tanto assim que eles forneceram seis Mirages que participaram dos seletivos bombardeios contra o oeste da Líbia, a parte mais desenvolvida. Foram mais de 40 mil bombas durante quase sete meses".
Diante da situação de guerra civil em que o país se viu mergulhado, acrescentou Pepe, se aponta que há "pelo menos" 50 mil mortos. "Pelo menos 48 mil pelos bombardeios da Otan e por seus aliados armados, oficiais ingleses, franceses e do Catar". Soma-se a isso, "o pessoal da Al-Qaeda, que também foi treinado por forças especiais do Catar disfarçadas de rebeldes da Otan, pois eles falam árabe sem sotaque".
PREPARAÇÃO DO TERRENO
Conforme esclareceu o jornalista, os protestos iniciais na conservadora – e base fundamentalista - Bengazi, foram dirigidos por um "bando de oportunistas que incluía agentes da CIA, que viveram 20 anos na Virgínia [estado dos EUA] - e que voltaram dizendo que agora eram comandantes militares -, tropas especiais britânicas em solo líbio e a inteligência francesa em solo líbio". Os invasores, explicou, tinham "ligação direta com o Libyan Islamic Fighting Group (Grupo de Luta Islâmica na Líbia) - que era filiado à Al-Qaeda". "Vários deles haviam treinado no Afeganistão, num campo ao norte de Kabul em que estive antes de 2001. E já me falavam de líbios naquela época".
Os "rebeldes da Otan", enfatiza, se concentraram desde o início nas cidades mais reacionárias, ao leste. A contestação principal partia de "líbios islâmicos radicais filiados à Al-Qaeda, alguns deles que viraram até comandantes desta organização". "Inclusive um personagem muito importante, Abdul Akim Belhaj, (hoje chefe militar do Conselho Nacional de Transição - CNT) era o emir deste grupo. Ele foi capturado em Bangcoc, por incrível que pareça, numa das operações clandestinas da CIA. Foi torturado em Bangcoc, enviado para Guantánamo, e os americanos resolveram devolvê-lo para a Líbia, onde ficou preso até o ano passado. E foi libertado por quem? Por Saif, o filho de Kadafi, que tinha um plano de reconciliação nacional que passava pela libertação de presos políticos importantes. Assim, mais de 200 radicais do leste foram soltos em 2010. Esse pessoal também se agregou ao golpe militar, que depois virou algo muito mais complexo".
Para justificar a necessidade de mobilização de tropas em socorro de seus "rebeldes", a "mídia corporativa" começou a brandir a necessidade de "ajuda humanitária", frisou Pepe. Então, começaram a divulgar que "o regime de Kadafi iria assassinar 700 mil pessoas à beira do Mediterrâneo, o que é completamente absurdo". Assim, quando os "rebeldes da Otan viram que não iam conseguir, vieram com a famosa: Vamos chamar a ONU para nos defender ou fazer a ONU instalar uma zona de exclusão aérea. Tudo sob a justificativa de impedir que os jatos de Kadafi metralhassem civis, o que nunca ficou provado por ninguém, nem pela Anistia Internacional nem pela Human Rights, que passaram mais de três meses lá". De um modo ou de outro, a repetição sistemática pelas agências internacionais de tais mentiras, "criou a abertura perfeita para a aliança atlanticista franco-inglesa-americana".
FRANCESES CONTRARIADOS
De acordo com Pepe Escobar, os franceses também tinham motivos para "declarar sua inimizade eterna por Kadafi", que afrontava os interesses de expansão neocolonial no continente. O líder líbio também "havia prometido comprar seus jatos Rafales, mas quando viu os Sukhoi russos disse: prefiro estes, são melhores. Os franceses ficaram desesperados. Kadafi tinha dito que deixaria eles montarem uma central nuclear na Líbia e também voltou atrás. Ele tinha um plano de transformar a economia africana unificando os países, através do dinar de ouro, uma moeda africana baseada nas reservas de ouro da Líbia que chegam a US$ 150 bilhões. Com isso ele poderia financiar um programa de investimentos não só no país, como na África subsaariana negra. Esses mesmos, 1,5 milhão de subsaarianos negros que vivem na Líbia, muitos dos quais agora estão sendo torturados, massacrados, eliminados". "Já está provado que houve uma série de massacres promovidos por estes famosos rebeldes da Otan, conhecidos hoje como o ‘novo poder’, contra negros africanos, sob a ridícula alegação de que todos eram mercenários de Kadafi". Tudo porque este enorme contingente de negros, explicou o jornalista, tinha o reconhecimento legal pelo governo líbio: "carta de residência, direito aos programas sociais, acesso às melhores escolas líbias, etc.". Em poucas palavras, um péssimo exemplo de integração e solidariedade a partir do fortalecimento da auto-estima, da educação.

Infelizmente, destacou Pepe Escobar, "o que está em curso é uma estratégia de militarização planetária, que inclui a Otan como braço armado da ONU dentro deste conceito espúrio e ridículo de responsabilidade de proteção de civis, onde eles são mortos – de verdade - pela intervenção do neo-imperialismo".