sábado, 19 de janeiro de 2013

Amigos dos EUA matam 83 na Universidade de Alepo


A Federação Nacional dos Estudantes Sírios qualificou o atentado de “ato bárbaro que expõe a natureza agressora e obscurantista do terrorismo que EUA apoia e tenta fazer prevalecer na pátria Síria”
No dia 15, um dos prédios de dormitórios da Universidade de Alepo foi atingido por disparos de mísseis. A morte de 83 pessoas, com ainda 160 feridos, foi o resultado da agressão. Uma parte do prédio ficou destruída.
O governo sírio pediu que o Conselho de Segurança da ONU condene o atentado e os terroristas que o praticaram.
Alepo é a mais importante cidade síria nas proximidades da fronteira turca. A cidade tem sido palco de combates entre os bandos armados pela CIA e financiados por governos satélites dos EUA no Oriente Médio e o exército sírio.
Após o avanço das tropas governamentais, foi decidida a reabertura da Universidade que já funciona desde outubro.
O momento do ataque foi no primeiro dia de aulas do corrente ano letivo. Os estudantes que ocupam os prédios dormitórios, entraram em acordo com a administração da universidade e parte dos apartamentos foi cedida para desabrigados que perderam moradias por conta de outros atentados terroristas.
Os bandos armados, através do Observatório Sírio dos Direitos Humanos, porta-voz dos mesmos, com sede em Londres, declarou que o bombardeio proveio da aviação síria. Já não é a primeira vez que os terroristas a serviço da CIA usam este expediente para tentar incompatibilizar o governo com o povo sírio.
Desta vez passaram dos limites, a mentira não tem como colar. Como podem sustentar que o governo que ousou desafiar os mesmos bandos, reabrindo a universidade, que usou o espaço para abrigar sírios atingidos pela agressão, atacassem um prédio em território liberado dos agressores, teria atirado contra prédio localizado no setor da cidade que ocupam após um esforço grande para liberar este mesmo setor?
Como seria possível ao governo assumir um desgaste interno desta monta em um momento em que o presidente acaba de reiterar o chamado a todas as correntes políticas a avançar no debate para uma solução política para a crise e tem divulgado a iniciativa até a exaustão para demonstrar seu real intento de governar com todo o povo sírio?
Como destacou o ministro do Exterior da Rússia, Serguei Lavrov, "declarações tentando imputar às forças governamentais sírias a responsabilidade pelas mortes na Universidade de Alepo é repulsiva e inescrupulosa".
"Eu vi na CNN que estão dizendo isso do governo sírio. Não consigo imaginar conversa mais sem nexo e repulsiva que esta", enfatizou Lavrov.
Para a chancelaria russa "o atentado é uma sangrenta provocação e um ato de retaliação com grandes perdas inflingidas a estudantes devido a grandes perdas inflingidas aos bandos armados nos seus enfrentamentos com o Exército Sírio".
A Federação Nacional dos Estudantes Sírios (FNES) denunciou "o ato bárbaro".
"Os crimes do terrorismo que os EUA buscam introduzir em nossa Pátria Síria não nos intimidam os estudantes sírios e sim lhes darão mais força frentes aos inaceitáveis projetos estadunidenses e sionistas para continuar em seus estudos com vistas a edificar o futuro da Síria".
A FNES qualificou o atentado de barbárie que "expõe a natureza agressora e obscurantista dos que o praticaram".
O Sindicato dos Professores condenou o atentado destacando também que "este ato criminoso reflete as tendências desumanas dos terroristas".
"Os autores mostraram que querem eliminar a civilização e a ciência sírias, porem esta luz não se apagará e os nossos jovens a manterão acesa nas universidades do país", ressaltou o departamento estudantil do Partido Nacionalista Social Sírio na Universidade de Damasco.
O Sindicato dos Engenheiros da Síria fez uma emocionada proclamação destacando que "os inimigos da Síria não poderão extinguir a chama de luz com a qual os jovens iluminam a nossa terra até os céus".
"Não vão comprometer nosso futuro nem conseguirão afogar a Síria no pântano da ignorância ao atentarem contra os destemidos estudantes ".
NATHANIEL BRAIA

O Fed, a moeda e as guerras dos EUA


MANUEL E. YEPE*
O fato de que uma elite invisível controle o governo dos Estados Unidos tem sido testemunhado desde os anos trinta do século passado por muitas personalidades em condições de fazê-lo, altos dirigentes do governo nominal incluídos.
O Fed [Federal Reserve, o Banco Central dos EUA] foi constituído como propriedade privada dos bancos membros, faz suas próprias políticas e não está sujeita a supervisão pelo Congresso ou o Presidente.
O Presidente Franklin D. Roosevelt assinalou em carta que escreveu a um assessor seu em 21 de novembro de 1933 que “a verdade da questão é, como você e eu sabemos, que o elemento financeiro tem possuído o governo desde os tempos de Andrew Jackson”.
Não por acaso afirmou-se que tudo o que se necessita para controlar efetivamente um governo é ter controle sobre o dinheiro da nação: um banco central com um monopólio da oferta de dinheiro e crédito.
O professor da Universidade de Georgetown, Carroll Quigley, que exerceu forte influência sobre o ex-presidente William Clinton, quando estudou nesse centro, considerava que o objetivo dos banqueiros que controlam os bancos centrais é “...criar um sistema mundial de controle financeiro em mãos privadas capaz de dominar o sistema político de cada país e a economia do mundo em seu conjunto...”.
Thomas Jefferson escreveu: “O Banco Central é a instituição mais mortalmente hostil aos princípios e a nossa Constituição... Se o povo norte-americano permite aos bancos privados controlar a emissão de sua moeda, primeiro pela inflação e depois pela deflação, os bancos e as corporações que crescerão em volta deles privarão o povo de todos seus bens até que seus filhos acordem sem teto no continente que conquistaram seus pais”.
Os Estados Unidos viveram sem um banco central até o início do século XX, quando, segundo o parlamentar Charles Lindbergh, “a desconfiança pela segurança do dinheiro provocou o pânico de 1907 e obrigou o Congresso a criar uma Comissão monetária nacional encabeçada pelo Senador Nelson Aldrich, sogro de John D. Rockefeller, Jr., que recomendou a criação de um banco central”.
Apesar de que a Constituição dos Estados Unidos assinala que só o Congresso deve ter a faculdade de cunhar moeda e regulamentar seu valor, em dezembro de 1913 foi aprovada a Ata da Reserva Federal, instituição constituída como propriedade privada dos bancos membros, que faz suas próprias políticas e não está sujeita a supervisão pelo Congresso ou pelo Presidente.
Embora seu papel fundamental seja o de estabilizar a economia e evitar situações de pânico no terreno financeiro, a grande depressão e numerosas recessões posteriores evidenciaram bem rápido que a Reserva Federal [Fed] produz inflação e aumenta a dívida federal quando assim o deseja, mas não aporta estabilidade.
O parlamentar Louis Mc Fadden, presidente do Comitê da banca e a moeda entre 1920 e 1931, advertiu então que “quando se aprovou a lei da Reserva Federal, o povo dos Estados Unidos não percebeu que se estava estabelecendo aqui um sistema de banca mundial. Um superestado controlado por banqueiros internacionais e industriais... atuando conjuntamente para escravizar o mundo... O Fed se esforça por ocultar seus poderes, mas a verdade é que o Fed usurpou o governo”.
Como supervisor e provedor das reservas, o Fed dá aos bancos acesso a fundos públicos, com o que estes aumentam sua capacidade de empréstimo.
Uma das faculdades mais importantes do Fed deriva de seu direito de comprar e vender valores do governo e proporcionar empréstimos aos bancos membros, pelo que também pode comprá-los. Isso lhe proporciona um mecanismo de empréstimos que incrementa a dívida pública para benefício dos bancos.
Como método para garantir o pagamento da dívida, se resolveu fazê-lo através de impostos à população. O “income tax” [imposto de renda] transladou a dívida à toda a população, mas tinha o ‘defeito’ de incluir entre os afetados os mais ricos, motivo pelo qual houve que legislar de forma tal que ficasse uma porta aberta para a evasão dos mais ricos e com essa finalidade surgiu, entre outros, o sistema das fundações isentas de impostos.
Tendo à sua disposição os meios para emprestar enormes somas ao governo (a Reserva Federal), o método para cobrar a dívida (os impostos) e um mecanismo para que os mais ricos possam evadir-se de tais impostos (as fundações), tudo o que vem faltando é a desculpa para que o governo peça novos empréstimos. E essa desculpa é proporcionada pelas guerras.

* Jornalista cubano especializado em política internacional. Escreve no Cubadebate

Copom mantém Brasil entre os cinco maiores juros do mundo


“...por um período de tempo suficientemente prolongado...”, diz a nota do Banco Central
Várias vezes a presidente Dilma – inclusive há poucos dias, a 27 de dezembro – frisou a necessidade de reduzir os juros até “um patamar compatível com o que é praticado internacionalmente”. A presidente relacionou essa necessidade a que “somos uma economia que pode caminhar pelos seus pés”, ou seja, relacionou a redução dos juros até ao patamar internacional com a necessidade do país de crescer.

No entanto, pela segunda vez, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) não baixou a taxa básica de juros. Pelo contrário, a nota emitida ao final da reunião, na quarta-feira, expõe que os diretores do BC, que formam o Copom, discutiram se aumentavam os juros ou mantinham-nos como estavam. Literalmente:
O Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 7,25% a.a., sem viés. Considerando o balanço de riscos para a inflação, que apresentou piora no curto prazo, a recuperação da atividade doméstica, menos intensa do que o esperado, e a complexidade que ainda envolve o ambiente internacional, o Comitê entende que a estabilidade das condições monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para garantir a convergência da inflação para a meta”.
Depois de tantos anos de privatização informal (e ilegal) do BC, já se sabe o que significam “riscos para a inflação, que apresentou piora no curto prazo”. Porém, a diretoria do BC tem noção do perigo – quem ia garantir a sua posição, se os juros fossem aumentados? Daí, foram mantidos em 7,25%.
No entanto, os “riscos” e a “piora” quanto à inflação, rigorosamente, são mentiras. Poucos dias antes, os mesmos sujeitos, em documento oficial, haviam dito exatamente o contrário:
O Copom destaca que o cenário central contempla evidências de deslocamento, para baixo, da taxa neutra [de inflação] nos últimos anos. Essa avaliação encontra respaldo nos modelos de projeção utilizados pelo Banco Central, bem como na dinâmica dos rendimentos de títulos – públicos e privados – sejam eles negociados nos mercados domésticos ou internacionais. O Comitê pondera, adicionalmente, que, na grande maioria dos casos, também apontam nessa direção variáveis mencionadas pela literatura como determinantes de declínio na taxa neutra”. (BC, Relatório Trimestral de Inflação, v. 14, nº 4, dezembro 2012, pág. 9 e pág. 80, grifos nossos).
A inflação, medida pelo IPCA, de 2012 (5,84%) ficou abaixo dos 6,50% de 2011. Portanto, a inflação caiu. A berraria da mídia, e de outros porta-vozes dos bancos, em torno de um suposto descontrole da inflação apenas porque ela foi de 0,6% em novembro/outubro para 0,79% em dezembro/novembro seria coisa de marciano, se todos não conhecessem a avidez por juros e pelo dinheiro do Tesouro dessa malta.
Há poucos dias, berravam pelo “superávit primário”, isto é, por aumentar o desvio do orçamento para os juros. Na quarta-feira pela manhã, berravam pelo aumento de juros – para que o BC não os reduzisse, o que conseguiram.
Não se trata de que estão recebendo pouco do setor público: nos últimos 12 meses, os governos federal, estaduais e municipais, e as estatais, transferiram aos bancos R$ 215,334 bilhões em juros – e isto porque essas transferências caíram R$ 41,912 bilhões em 2012. Além disso, de janeiro a novembro de 2012, somente o governo federal transferiu aos bancos mais R$ 282,356 bilhões em amortizações (um salto quase mortal em relação a 2011, quando essas amortizações, no mesmo período, foram de R$ 93,744 bilhões – portanto, as amortizações aumentaram, até agora, 201%).
Para que o leitor tenha uma ideia, no mesmo período, o governo federal liberou para o ensino superior cerca de R$ 15 bilhões (todos esses dados estão em dois relatórios: BC, Relatório de Política Fiscal, 28/12/2012; e Tesouro Nacional, Relatório Resumido da Execução Orçamentária da União e Outros Demonstrativos, nov/2012).
Ao não baixar os juros básicos – estão há 90 dias sem alteração – a diretoria do BC contemplou, precisamente, a malta financeira, a quadrilha da agiotagem. Uma taxa nominal de juros de 7,25% significa que os juros reais (o ganho dos banqueiros, descontada a inflação) estão em +1,7%, o que é, ainda, a quinta maior taxa do mundo. Enquanto isso, a média internacional dos juros reais básicos está em -0,4% (menos 0,4%). A taxa de juros básicos dos EUA está em -1,7% (menos 1,7%). Só há, portanto, quatro países em que os bancos e fundos especulativos norte-americanos, com a montanha de dólares que lhes forneceu seu banco central (o FED), podem ganhar mais que no Brasil. Aliás, não é bem assim, pois em quase todos os países os títulos públicos, ao contrário daqui, não são remunerados pelos juros básicos.
Não devemos, certamente, subestimar o que já conseguimos – a queda nos juros e a correção cambial, que são obras sobretudo da presidente Dilma. A questão é que os patamares atuais tanto da taxa de juros básica quanto da taxa de câmbio são insuficientes para que o país volte a crescer. Bem entendido, longe de nós a ideia de que nada é preciso fazer além de acertar o câmbio e os juros para que voltemos a crescer. Somente as aves do pau de galinheiro neoliberal são capazes de atribuir a outros essa ideia que  nunca houve – exatamente porque querem conservar os juros e o câmbio tal como antes.
Do ponto de vista do conjunto da economia, mantidos nesse nível os juros básicos, além de não forçar uma queda maior nos juros às empresas e aos consumidores por parte dos bancos privados (por que eles aumentarão a oferta de crédito ao público, se ainda estão ganhando cornucópias com os juros dos títulos públicos?), o BC mantém um câmbio evidentemente desequilibrado – isto é, a favor das importações de multinacionais, que tem seu preços subsidiados, contra a indústria nacional, que tem seus produtos encarecidos por um golpe cambial.
Economistas como o professor Yoshiaki Nakano defendem que a manutenção do câmbio com o dólar  ligeiramente acima de R$ 2 é insuficiente para atingir o que eles chamam “taxa de equilíbrio” - uma taxa de câmbio que não seja destrutiva para a indústria nacional. Por exemplo, diz Nakano:
“... as medidas de estímulos, a depreciação cambial e redução nos juros nem de longe conseguem compensar as perdas sofridas pelo setor nos últimos anos. (…) a taxa real de câmbio apreciada por longos anos promoveu a substituição da produção nacional pelas importações, desindustrializou o país, provocou enormes pressões de custos e reduziu a margem de lucro e o estímulo aos investimentos. (…) Qual o real problema que estamos enfrentando? (…) depois da segunda onda de desindustrialização, desde meados da década de 90, a manufatura anda com as pernas quebradas, mas não "moribunda". Tudo indica que o efeito da segunda onda será mais persistente, pois parte significativa das empresas brasileiras se transformaram em 'maquiladoras', ou simplesmente em importadoras, e de difícil reversão. (…) É preciso mudar toda a política para que se possa baixar os juros, manter uma taxa de câmbio melhor, ter estabilidade e gerar crescimento. (…) Enquanto o investimento público em infraestrutura ficar rastejando em torno de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) e a taxa de investimento da economia ficar abaixo dos 20% do PIB, vamos continuar nesta 'armadilha de baixo crescimento'”.
Isso é exatamente ao que a decisão do BC, de manter os juros básicos inalterados, se opõe.

CARLOS LOPES