STELLA CALLONI*
Até agora ninguém conhece os nomes desses supostos
líderes tribais que mencionam, aprovando a "independência" de Benghazi, e em
que circunstâncias se dispuseram para esta desintegração com a cumplicidade
da ONU. Uma tragédia sobre a tragédia. Alguns analistas começam a se
perguntar como se resolverá este problema político-regional "para o Conselho
Nacional de Transição (CNT) que governa a Líbia" desde o assassinato de
Kadafi.
Esse CNT, que é em realidade um governo títere do poder
colonial, se opôs não obstante à criação de uma região oriental, advertindo
sobre a desintegração do país. Deveriam ter imaginado que o envio de 12 mil
soldados estadunidenses teria algum objetivo específico, mas nesse caos e
anarquia que impera na "nova Líbia" as contradições são cada vez mais
profundas e violentas. Seus chefes na guerra os deixaram flutuando sobre as
areias do deserto. É possível que agora lhes joguem a corda "salvadora" de
converter Trípoli na sede do Comando dos Estados Unidos para África (AFRICOM).
Mas nesta tragédia, neste genocídio sobre genocídio, que
a comunidade internacional amparou com o seu silêncio, o povo líbio tem
perdido tudo. É um povo abandonado à sua sorte, sem nenhuma proteção, ao que
agora lhe roubam seu próprio território. O silêncio sobre o sucedido na
Líbia, mortes e desaparições de milhares de pessoas, destruição de uma
avançada infraestrutura, de moradias gratuitas, hospitais, escolas e
universidades, e grandes avanços em outros aspectos é verdadeiramente
aterrador. Esses crimes de lesa-humanidade cometidos sob o manto de
"invasões humanitárias", ao ficar impunes, são aplicáveis quase de imediato
a outros países. É o que está ocorrendo na Síria, o mesmo modelo de
destruição e morte. A mesma matriz e o mesmo silêncio. A comunidade
internacional continuará sendo cúmplice do crime? Continuarão chamando
invasão humanitária a esse modelo tão perversamente tosco e tão
certeiramente criminoso, dos novos traçados contra-insurgentes do século
XXI? E na Europa, como lhe explicarão os governantes a seus povos que
fizeram semelhantes gastos de guerra, que ajudaram indiscutivelmente à crise
que os afeta, para ficar fora desse jogo, maldito, de genocídios por
recursos, e traições pelo controle do mundo que ninguém poderá sustentar
indefinidamente?
*Stella Calloni é colunista do jornal La
Jornada