Para
‘Veja’, trocar 200 ligações com Cachoeira não é crime, é trabalho
Antes da
Delta, tem o Demóstenes, a ‘Veja’ e Perillo, pela intimidade revelada
nas gravações
Começa nesta semana a CPMI do Cachoeiragate. Todas as conexões do
Cachoeira serão investigadas. Não adianta a revista Veja querer pautar a
CPMI dizendo que “o foco das investigações será a Delta”. A CPMI vai
investigar a Delta, mas antes tem muita coisa grave que precisa ser
esclarecida, como, por exemplo, os 200 telefonemas que Policarpo Jr,
diretor da revista, trocou com o bicheiro e os “vários furos” dados com
a ajuda da máfia. Isso precisa ser respondido pela revista, e não ficar
procurando desesperadamente desviar o foco das apurações.
Veja quer escapar de explicar suas ligações com
Cachoeira
Para isso ela tenta desviar os holofotes para a Delta, mas a
CPMI vai investigar todos os crimes
Começa nesta semana a
CPMI do “Cachoeiragate” que vai investigar as conexões do crime organizado
chefiado por Carlinhos Cachoeira com o senador Demóstenes Torres (ex-Dem), a
revista Veja, o governador tucano Marconi Perillo, além de outras
falcatruas.
As gravações autorizadas pela
Justiça, feitas pela Operação Monte Carlo, da PF, não deixam dúvidas de que
Demóstenes agia politicamente para a organização criminosa de Cachoeira. Já
a revista Veja, que tenta desesperadamente desviar o foco das investigações,
não conseguirá escapar de explicar na CPMI os 200 telefonemas gravados entre
a direção da revista e Cachoeira.
É claro que todas as conexões
do Cachoeira serão investigadas. Não adianta Veja se apressar em querer
pautar a CPMI dizendo que “o foco da investigações será a Delta”. A CPMI vai
investigar a Delta, mas antes dela tem muita coisa grave envolvendo a
própria revista, que precisa ser esclarecido. Quem trocou 200 telefonemas e
armou “vários furos” com os bandidos, não tem como escapar das
investigações. Assim como o Demóstenes, que, segundo as gravações, teria,
entre outras coisas, recebido até R$ 1,5 milhão, de uma só vez, do bando de
Cachoeira. Aquele mesmo Demóstenes que já integrava a quadrilha e assim
mesmo foi brindado com uma capa da Veja, inclusive apresentado como
“mosqueteiro da moralidade”. Também não adianta o resto da mídia silenciar
sobre o envolvimento da Veja com os criminosos, como faz Globo e a Folha.
Tudo vai ter que ser esclarecido.
E, se depender do deputado
Fernando Ferro (PT-PE), Roberto Civita, o dono da revista, será um dos
primeiros a ser convocados para prestar esclarecimentos sobre as ligações da
Veja com o crime organizado. Em discurso da tribuna da Câmara o deputado
afirmou que a revista Veja é “o próprio crime organizado fazendo
jornalismo”. O parlamentar garantiu que assim que a CPMI for instalada, vai
entrar com uma petição para convocar Civita. Em entrevista à Rede Brasil
Atual, ele afirmou que a revista “fomentou, incentivou, financiou esses
delinquentes a terem esse tipo de comportamento”, referindo-se à rede ilegal
de atuação do contraventor Carlinhos Cachoeira.
“Cabe ao órgão de imprensa
trazer esclarecimentos sobre essa relação, o porquê de tantos telefonemas
identificados na investigação da Polícia Federal. Independentemente de quem
seja, o Civita ou não, os responsáveis pela Veja terão de responder sobre
isso”, afirmou Fernando Ferro. “É uma relação estranha, que tem laços de
cumplicidade com esse submundo. Na verdade, isso vem lá de trás, em vários
momentos. Essas denúncias espetaculosas da Veja, todas elas estão sendo
lastreadas por esse processo de espionagem e arapongagem”, denunciou. “Essas
ações da Veja têm tudo a ver com crime organizado, não com jornalismo”,
disse Ferro.
Ninguém na comissão vai cair
nessa história da carochinha, inventada pela revista, de que os telefonemas
e os acertos feitos por Policarpo Jr. diretamente com Cachoeira ou com
outros integrantes do bando faziam parte de seu “trabalho investigativo”.
Além das animadas e comprometedoras conversas entre Cachoeira e o diretor da
revista, as ligações flagraram também Policarpo encomendando diretamente os
serviços sujos ao capanga de Cachoeira, o ex-agente Jairo Martins. A
intimidade entre Jairo e Policarpo era tão grande, que, numa certa hora nas
gravações, Cachoeira fica com ciúmes e aparece lembrando ao cúmplice quem
era o chefe da quadrilha. “A gente tem que trabalhar com ele em grupo.
Porque os grandes furos do Policarpo fomos nós que demos, rapaz”, lembra
Cachoeira.
Outro que está na mira da CPMI
é o governador tucano de Goiás, Marconi Perillo. A Polícia Federal
identificou que o esquema criminoso comandado por Cachoeira tinha influência
dentro do Palácio do Governo. Segundo a PF, Cachoeira nomeou vários
integrantes do governo Perillo. Suspeita-se que a chefe de gabinete do
governador, Eliane Gonçalves Pinheiro, tenha sido uma delas. Em uma das
escutas, Cachoeira e Eliane falaram cifrado sobre um tal “maior”. “O ‘maior’
está aqui ao meu lado”, disse ela a Cachoeira, que respondeu: “diga a ele
porque ele vai ficar contente com a notícia”. Na conversa, Cachoeira alerta
Eliane que a PF vai desencadear uma operação contra algumas prefeituras
suspeitas de fraude, entre elas uma cujo prefeito era aliado de Perillo.
Perillo negou de pés juntos que
seja ele o “maior”, referido na conversa grampeada entre Eliane e Cachoeira.
Ele disse que só esteve com Cachoeira uma vez “socialmente”. Mas depois teve
que admitir que se encontrou com Cachoeira para discutir, segundo ele,
“isenções fiscais” para a empresa farmacêutica do contraventor. Além do
mais, em novas gravações feitas PF vindas a público, o braço direito do
contraventor Carlinhos Cachoeira, o ex-vereador do PSDB, Wladimir Garcez, dá
a entender que Marconi Perillo (PSDB) pediu para se encontrar com o
bicheiro. Estranho é que a secretária de Perillo saiu imediantamente de
circulação, demitida logo depois de conhecida a gravação.
Não há dúvida, portanto, que
esses casos mais escandalosos terão prioridade nas investigações da CPMI.
Nenhuma cortina de fumaça vai impedir os parlamentares de começarem a CPMI
desvendando a associação para o crime entre o senador mosqueteiro, a revista
Veja e o governador de Goiás. Sem prejuízo do esclarecimento de outras
irregularidades.
SÉRGIO CRUZ