quinta-feira, 31 de maio de 2012

Diretora do FMI agride gregos para ajudar partidos do arrocho


Indagada se não tinha em mente as mães gregas incapazes de ter acesso a parteiras ou pacientes sem remédios que poderiam salvar suas vidas, devido ao arrocho do FMI, Lagarde disse que não 

Declarações da diretora-gerente do FMI, a francesa americanófila Christine Lagarde, com o intuito de pressionar a população grega a manter-se sob a “austeridade” da Troika, isto é, votar nos partidos da manutenção do arrocho nas eleições de 17 de junho, provocaram grande repulsa na Grécia e mal-estar na Europa inteira, constituindo-se em autêntico tiro no pé.
Lagarde, que segundo o jornal espanhol “El País” não paga imposto de renda por ser “funcionária internacional”, afirmou ao inglês “The Guardian” que não haveria compaixão com a Grécia e que os gregos deveriam “pagar impostos” ao invés de reclamarem dos cortes impostos pelo FMI (e BCE e Comissão Europeia).
Perguntada sobre as crianças gregas atingidas duramente pelo arrocho, Lagarde atribuiu a responsabilidade aos pais. “Os pais precisam pagar seus impostos”, disse ela ao jornal inglês. “Até onde interessa a Atenas, eu também estou preocupada com aquelas pessoas que tentam fugir o tempo todo do imposto de renda, todas as pessoas na Grécia que tentam se esquivar do pagamento de impostos”.
Indagada se não tinha em mente as mães gregas incapazes de ter acesso a parteiras ou pacientes sem remédios que poderiam salvar suas vidas, Lagarde retrucou que pensava mais “nas crianças do Níger” – como se o FMI tivesse algum dia manifestado alguma piedade pela sorte dos povos aos quais aplicou programas draconianos de arrocho para atender bancos e especuladores.
O líder da Syriza (Coalizão de Esquerda Radical), Alexis Tsipras, repudiou as declarações da diretora-gerente do FMI, assinalando que “sobre as recentes declarações da senhora Lagarde, a última coisa que a Grécia quer é sua compreensão”. “Os trabalhadores gregos pagam os seus impostos”, que são muito pesados e até “insuportáveis”. “Em relação à evasão fiscal, (Lagarde) terá que se dirigir ao Pasok e ao Nova Democracia para que lhe expliquem por que não exigem nada do grande capital e perseguem o trabalhador de base há dois anos”, acrescentou. Já o Pasok fez de conta que não foi quem entregou a Grécia às garras do FMI e demagogicamente considerou o que foi dito como “insulto” – apesar de defender a manutenção do Memorando do FMI.
A página de Lagarde no Facebook foi inundada por mais de 20 mil condenações às declarações – mesmo após remendar o que havia dito. “Você não sabe que a Grécia vive uma crise humanitária?”, questionou um comentário enviado. “Pouco importa o que você disser agora, depois de tantas críticas. Sabe o dano que causou ao povo grego?”, perguntou Thanasis Athanasopulos. “Não somos preguiçosos e tampouco somos mendigos”. Outros a denunciavam por “não pagar impostos”.
REPROVAÇÃO
Na França, as declarações de Lagarde foram recebidas com ampla reprovação. Porta-voz do governo Hollande definiu as palavras da diretora-geral do FMI como “esquemáticas e caricaturais” e apontou que “não é o momento de dar lições à Grécia”. A presidente da associação patronal francesa Medef, Laurence Parisot, considerou as afirmações “muito perigosas”. “Creio que não faz falta dirigir-se aos povos assim, sobretudo em um momento em que o povo grego é vítima de uma situação espantosa”. Ela acrescentou que o que é necessário agora é “ajudar o povo grego, não humilhá-lo”.
Por sua vez, o líder da Frente de Esquerda francesa, Jean Luc Mélenchon, considerou o pronunciamento de Lagarde “indigno”. “Com que direito fala dessa maneira aos gregos? Por que não diz que são os armadores que não pagam impostos e devem pagá-los? Os servidores públicos e os trabalhadores pagam seus impostos. Se houvesse moralidade política, (Lagarde) deveria abandonar o cargo que ocupa”.




 
ANTONIO PIMENTA