Indagada se não tinha em mente as mães gregas incapazes de ter acesso a
parteiras ou pacientes sem remédios que poderiam salvar suas vidas,
devido ao arrocho do FMI, Lagarde disse que não
Declarações da diretora-gerente
do FMI, a francesa americanófila Christine Lagarde, com o intuito de
pressionar a população grega a manter-se sob a “austeridade” da Troika,
isto é, votar nos partidos da manutenção do arrocho nas eleições de 17
de junho, provocaram grande repulsa na Grécia e mal-estar na Europa
inteira, constituindo-se em autêntico tiro no pé.
Lagarde, que segundo o jornal
espanhol “El País” não paga imposto de renda por ser “funcionária
internacional”, afirmou ao inglês “The Guardian” que não haveria
compaixão com a Grécia e que os gregos deveriam “pagar impostos” ao
invés de reclamarem dos cortes impostos pelo FMI (e BCE e Comissão
Europeia).
Perguntada sobre as crianças
gregas atingidas duramente pelo arrocho, Lagarde atribuiu a
responsabilidade aos pais. “Os pais precisam pagar seus impostos”, disse
ela ao jornal inglês. “Até onde interessa a Atenas, eu também estou
preocupada com aquelas pessoas que tentam fugir o tempo todo do imposto
de renda, todas as pessoas na Grécia que tentam se esquivar do pagamento
de impostos”.
Indagada se não tinha em mente
as mães gregas incapazes de ter acesso a parteiras ou pacientes sem
remédios que poderiam salvar suas vidas, Lagarde retrucou que pensava
mais “nas crianças do Níger” – como se o FMI tivesse algum dia
manifestado alguma piedade pela sorte dos povos aos quais aplicou
programas draconianos de arrocho para atender bancos e especuladores.
O líder da Syriza (Coalizão de
Esquerda Radical), Alexis Tsipras, repudiou as declarações da
diretora-gerente do FMI, assinalando que “sobre as recentes declarações
da senhora Lagarde, a última coisa que a Grécia quer é sua compreensão”.
“Os trabalhadores gregos pagam os seus impostos”, que são muito pesados
e até “insuportáveis”. “Em relação à evasão fiscal, (Lagarde) terá que
se dirigir ao Pasok e ao Nova Democracia para que lhe expliquem por que
não exigem nada do grande capital e perseguem o trabalhador de base há
dois anos”, acrescentou. Já o Pasok fez de conta que não foi quem
entregou a Grécia às garras do FMI e demagogicamente considerou o que
foi dito como “insulto” – apesar de defender a manutenção do Memorando
do FMI.
A página de Lagarde no Facebook
foi inundada por mais de 20 mil condenações às declarações – mesmo após
remendar o que havia dito. “Você não sabe que a Grécia vive uma crise
humanitária?”, questionou um comentário enviado. “Pouco importa o que
você disser agora, depois de tantas críticas. Sabe o dano que causou ao
povo grego?”, perguntou Thanasis Athanasopulos. “Não somos preguiçosos e
tampouco somos mendigos”. Outros a denunciavam por “não pagar impostos”.
REPROVAÇÃO
Na França, as declarações de
Lagarde foram recebidas com ampla reprovação. Porta-voz do governo
Hollande definiu as palavras da diretora-geral do FMI como “esquemáticas
e caricaturais” e apontou que “não é o momento de dar lições à Grécia”.
A presidente da associação patronal francesa Medef, Laurence Parisot,
considerou as afirmações “muito perigosas”. “Creio que não faz falta
dirigir-se aos povos assim, sobretudo em um momento em que o povo grego
é vítima de uma situação espantosa”. Ela acrescentou que o que é
necessário agora é “ajudar o povo grego, não humilhá-lo”.
Por sua vez, o líder da Frente
de Esquerda francesa, Jean Luc Mélenchon, considerou o pronunciamento de
Lagarde “indigno”. “Com que direito fala dessa maneira aos gregos? Por
que não diz que são os armadores que não pagam impostos e devem
pagá-los? Os servidores públicos e os trabalhadores pagam seus impostos.
Se houvesse moralidade política, (Lagarde) deveria abandonar o cargo que
ocupa”.
ANTONIO PIMENTA