terça-feira, 20 de março de 2012

Impunidade imperial: invasor desintegra a Líbia(II)


STELLA CALLONI*

Até agora ninguém conhece os nomes desses supostos líderes tribais que mencionam, aprovando a "independência" de Benghazi, e em que circunstâncias se dispuseram para esta desintegração com a cumplicidade da ONU. Uma tragédia sobre a tragédia. Alguns analistas começam a se perguntar como se resolverá este problema político-regional "para o Conselho Nacional de Transição (CNT) que governa a Líbia" desde o assassinato de Kadafi.
Esse CNT, que é em realidade um governo títere do poder colonial, se opôs não obstante à criação de uma região oriental, advertindo sobre a desintegração do país. Deveriam ter imaginado que o envio de 12 mil soldados estadunidenses teria algum objetivo específico, mas nesse caos e anarquia que impera na "nova Líbia" as contradições são cada vez mais profundas e violentas. Seus chefes na guerra os deixaram flutuando sobre as areias do deserto. É possível que agora lhes joguem a corda "salvadora" de converter Trípoli na sede do Comando dos Estados Unidos para África (AFRICOM).
Mas nesta tragédia, neste genocídio sobre genocídio, que a comunidade internacional amparou com o seu silêncio, o povo líbio tem perdido tudo. É um povo abandonado à sua sorte, sem nenhuma proteção, ao que agora lhe roubam seu próprio território. O silêncio sobre o sucedido na Líbia, mortes e desaparições de milhares de pessoas, destruição de uma avançada infraestrutura, de moradias gratuitas, hospitais, escolas e universidades, e grandes avanços em outros aspectos é verdadeiramente aterrador. Esses crimes de lesa-humanidade cometidos sob o manto de "invasões humanitárias", ao ficar impunes, são aplicáveis quase de imediato a outros países. É o que está ocorrendo na Síria, o mesmo modelo de destruição e morte. A mesma matriz e o mesmo silêncio. A comunidade internacional continuará sendo cúmplice do crime? Continuarão chamando invasão humanitária a esse modelo tão perversamente tosco e tão certeiramente criminoso, dos novos traçados contra-insurgentes do século XXI? E na Europa, como lhe explicarão os governantes a seus povos que fizeram semelhantes gastos de guerra, que ajudaram indiscutivelmente à crise que os afeta, para ficar fora desse jogo, maldito, de genocídios por recursos, e traições pelo controle do mundo que ninguém poderá sustentar indefinidamente?

*Stella Calloni é colunista do jornal La Jornada

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