Quando foi suspensa a fuzilaria sobre Mohamed Merah - que,
segundo a polícia francesa e os jornais corporativos, seria o assassino de 3
soldados e 4 judeus (três crianças) – uma fedentina de história mal contada
empesteou a França. Como observa o colunista Caleb Irri em seu blog, Sarkozy e
“seus cúmplices na imprensa se lançam todos juntos, como pássaros necrófagos, na
batalha da recuperação, da instrumentalização dos fatos trivializados, no
momento em que as eleições se aproximam”. Uma história que Sarkozy, a imprensa a
seu serviço e a polícia francesa dão como acabada e resolvida, mas que está
cheia de furos e incongruências.
Por que o suspeito foi morto com cerca de 20 tiros (foram
contados 300 cartuchos em volta do cadáver) quando poderia ter sido dominado,
preso para ser julgado e esclarecer bem os crimes, confirmar suas motivações,
revelar possíveis ligações com comparsas etc. ? Enfim, por que abrir mão de
esclarecer os fatos trágicos que tanto mobilizaram a atenção dos franceses?
Haveria algum temor sobre suas revelações ?
O primeiro a levantar suspeitas sobre a pressa em calar o
suposto assassino foi Christian Prouteau, fundador e ex-diretor do Grupo de
Intervenção da Guarda Nacional (GICN). “Como é possível que a melhor unidade da
polícia não tenha conseguido prender um homem que estava sozinho?” Para ele, o
uso de bambas de percussão, deixaram Merah psicológi-camente disposto a
continuar sua “guerra”. A lógica seria o uso de gás lacrimogêneio ou
paralisante. Tratou-se de “uma assalto realizado sem um esquema tático”,
acrescenta Prouteau.
O deputado Jean-Jacques Urvoas, especialista em segurança do
PS, vai pela mesma linha: “A Raid (espécie de SWAT francesa) não é capaz de
alcançar um indivíduo em seu apartamento?”
A descrição da condição do suspeito pelo jornalista da BBC,
Christian Frasier, quando o mesmo ainda estava vivo e cercado, dão conta do
clima de histeria que se queria criar para justificar a fuzilaria implacável que
se seguiria: “policiais dizem que ele está fortemente armado com um rifle
Kalashnikov de alta velocidade e uma submetralhadora Uzi (fabricação
israelense), várias pistolas e possivelmente granadas”. Depois que Merah foi
fuzilado, a polícia informou que ele usara apenas uma Colt 45.
A morte de Merah foi anunciada e logo Sarkozy saiu falando de
“tragédia nacional”, da necessidade de aplastrar o terrorismo e por uma “unidade
nacional” (claro que em torno dele...). A imprensa já reproduz pesquisas com
Sarkozy (até 11 de março sem chances na disputa) à frente de seu principal
oponente, Holland, do PS.
Mas esse feito foi anunciado. Dia 12, um dia depois da morte
da primeira vítima do assassino em série o comentarista do L’Express, Christophe
Barbier, apareceu na TV francesa com o seguinte comentário: “A única chance para
que Sarkozy vença as eleições é se um evento externo a sua campanha ocorrer. Um
evento internacional, excepcional ou traumatizante. Somente um cataclisma que
seja capaz de unir o povo francês em torno de seu presidente é que pode oferecer
a Sarkozy a chance de reeleição”.
Mohmed Merah, agiu à solta, durante 10 dias, cometendo três
chacinas, apesar de ser freguês de carteirinha e figura carimbada do serviço
secreto francês, da CIA e do Mossad. Foi detido pelos americanos no Afeganistão
e entregue aos franceses.
As supostas declarações de Merah, também parecem selecionadas
para se encaixar na campanha de ódio e histeria anti-islâmica propalada por
Sarkozy. Horas antes de ser cercado teria falado por telefone com a jornalista
Ebba Kalondo, da TV France 24 por 11 minutos e teria explicado que matara os
soldados franceses (estranhamente todos de origem árabe) para vingar o
sofrimento imposto a seus irmãos no Afeganistão. Matara os judeus para vingar os
palestinos e que mais mortes viriam até que “a França ficasse de joelhos”.
NATHANIEL BRAIA
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