terça-feira, 18 de dezembro de 2012

EUA: Império massacra povos e colhe mais chacinas internas


Morticínios cometidos pelos EUA há décadas para roubar riquezas das nações são glamourizados por Hollywood e pela mídia. Efeito colateral: se o governo pode chacinar fora, desinibe-se a barbárie em casa
O país que tornou os massacres em terra alheia sua política oficial nos últimos cinqüenta anos, os EUA, se viu na sexta-feira (14) diante do terceiro massacre internamente só este ano, e 32º desde 1999, o de Newtown, pequena cidade de Connecticut, onde um atirador invadiu uma escola e assassinou a tiros de rifle 20 crianças – com idades entre 6 e 7 anos – e seis professores. Na chacina do cinema Aurora em julho, haviam sido 12 mortos e mais de 50 feridos, e dezesseis dias depois, no templo Sikh em Milwaukee, mais seis mortos e três feridos.
Os funerais das pequenas vítimas já começaram, e o próprio Obama se dirigiu a Newtown para uma vigília, onde declarou que “não podemos tolerar algo como isto nunca mais. Estas tragédias devem terminar”. Quando da matança no cine Aurora, ele, o comandante-em-chefe dos assassinatos em massa com drones no Paquistão e Afeganistão, havia dito que “nós nunca poderemos compreender o que leva alguém a aterrorizar os demais seres humanos assim”. A tragédia da escola elementar Sandy Hooks corresponde a mais do dobro do número de mortos de Columbine, celebrizado no filme denúncia de Michael Moore.
Os EUA têm cometido recorrentes massacres mundo afora – Coreia, Vietnã, Iugoslávia, Iraque, Afeganistão, Paquistão, Iêmen e Líbia -, além de patrocinar via mercenários morticínios em outras partes, como agora na Síria. Esses massacres são legitimados internamente, glamourizados por Hollywood e pelas redes de TV, justificados ad infinitum, e os povos que são vítimas são demonizados e contra eles vale tudo, a barbárie. Mas não é possível sair chacinando no mundo inteiro sem que isso ricocheteie internamente.
Em Newtown, mais de 100 tiros foram disparados, e havia crianças com 11 perfurações de bala. O atirador, depois identificado como Adam Lanza, de 20 anos, chegou à escola antes de 9h30, com três armas, forçou a entrada a tiros, matou o diretor e uma psicóloga, e invadiu duas salas de aulas, onde disparou contra as crianças indefesas. Depois se suicidou com um tiro de pistola, assim que a polícia chegou. Antes, havia matado em casa a própria mãe, Nancy, dona das armas e integrante de um clube de treino de tiro. Dois funcionários da escola sobreviveram aos ferimentos. O irmão de Adam, Rick Lanza, chegou a ser erroneamente apontado como o matador. A imprensa dos EUA alegou que Adam teria problemas mentais ou que seria autista.
A questão é porque tanta gente anda surtando nos EUA exatamente desse jeito, a ponto de poder se falar praticamente numa “doença americana”, não em outros países. A resposta é que a degradação moral do império se soma à decadência vivida internamente e ao reacionarismo em vigor, para criar o caldo de cultura. A própria história do país se funda no massacre dos índios. Também a violência é amplificada 24 horas por dia pelos meios de comunicação, com a ideologia de que é preciso exterminar o “inimigo”, contra o qual eclode a revanche sangrenta e desmedida, assim que a frustração se torna insuportável. Os joguinhos eletrônicos – em que o jogador é impelido a matar a rodo – também fazem a sua parte.
INSANIDADE
Insanidade que se torna mortal à medida que nos EUA proliferam as armas, milhões de armas, e é facílimo comprar uma arma automática, como um rifle AR-15 usado nas invasões de países estrangeiros, e pentes de munição com 100 tiros, até pelo correio. Em Newtown, Lanza usou um rifle Bushmaster, que a Walmart acaba de tirar de seu catálogo de vendas. No ano passado, foram efetuadas nos EUA 16 milhões de checagens para aquisição de armas – o que não se traduz automaticamente em vendas, mas dá a dimensão da coisa. E nos “gun shows” qualquer um pode comprar uma arma, sem sequer se identificar, sem checagem de dados, o que segundo o prefeito de Nova York Michael Bloomberg, corresponde a 40% de todas as armas vendidas. Em 2004, o banimento das armas automáticas, que estava em vigor, foi revogado, situação que se mantém até hoje. Mas o problema, como diz Michael Moore, não são armas, e sim quem as usa. No Canadá, vizinho aos EUA, há muitas armas e as pessoas dormem com a porta aberta.
Quatro dias após a matança em Newtown, Obama, de volta às suas lides, participou da célebre reunião das terças-feiras em que define quem será morto no próximo raid com drones. Para ele, seus massacres nada têm a ver com os dos “mass killers”. Em março, numa aldeia em Kandahar, no Afeganistão, nove crianças e três mulheres foram mortas e tiveram seus corpos queimados por um soldado dos EUA. Para essas vítimas, não haverá bandeira norte-americana a meio-mastro.
ANTONIO PIMENTA

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