O novo secretário de Estado dos EUA, John Kerry, asseverou em Berlim que os EUA são um país tão livre e tão formidável que “você tem o direito de ser estúpido, se você quiser ser”. Provavelmente, deva ser até mesmo um dever, o dever de ser estúpido. Nos EUA, é um direito muito exercitado, como no caso de estudantes que acham que a capital do Brasil é Buenos Aires.
A afirmação foi feita diante de uma platéia de estudantes na capital alemã, em que Kerry se esmerou para demonstrar o paraíso de liberdade que os EUA são. Segundo ele, “como um país, como sociedade, vivemos e respiramos a ideia de liberdade religiosa e tolerância religiosa, qualquer que seja a religião, e liberdade política e tolerância política, qualquer que seja o ponto de vista”.
Para um país que até a década de 1960 praticava o apartheid, é muita folga. A tolerância religiosa pode ser medida pela queima de Alcorões por soldados invasores norte-americanos no Afeganistão, e pela perseguição desenfreada a muçulmanos. Ou pela matança em um templo sikh nos EUA. Os imigrantes nos EUA também têm apreciado muito essa tolerância.
Quanto à liberdade política, aí está o Ato (In)Patriótico que não nos deixa mentir, onde até se o cidadão pegar um livro em uma biblioteca está sujeito a ser grampeado e fichado. Para não falar no grampo geral e irrestrito, direto das Operadoras. Ou a detenção sem acusação e sem direito a hábeas corpus, caso alguém cisme que você é um perigoso “terrorista”.
Também o soldado Bradley Manning está aproveitando das delícias do sistema há 1000 dias. E você ainda pode se submeter a uma sessão de waterboarding. O pessoal do Occupy também tem sentido na carne o quanto é livre a manifestação nos EUA. Só de uma vez foram presos 700 numa ponte em Nova Iorque. Os acampamentos foram arrasados pela polícia país afora.
Para um país que exportou manuais de tortura da CIA, deve ser por má fé ou cretinice que Kerry diz que “o importante é ter tolerância para dizer, você sabe, você pode ter um ponto de vista diferente”. Deve ser para assegurar um “ponto de vista diferente” que os EUA têm uma frota de drones. A.P.
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